terça-feira, 23 de setembro de 2008

Reafricanização - a responsabilidade está em nós!

Por Vanessa Efunpàdé t’Iyemojá (Jornalista, Coordenadora do Egbé/RS, Omosà do Ilè Ogun Onirè e Oyá Niké)


Òní bàbá òla ("O hoje é o pai do amanhã"): este é um ditado iorubano que tem muito a ver com o momento que estamos vivendo. Parece um sonho, mas estamos começando a colocar em prática uma utopia: a da reafricanização de nossa religião. Soa estranho até, pois a Religião é africana. Mas só quem vive este momento de crise religiosa, sabe o quanto este movimento é urgente e imprescindível. Estamos agonizando. Estamos matando nossos Òrisà e deixando morrer a tradição.
Os motivos, estamos cansados de ver todos os dias: desrespeito com a natureza, com os mais velhos, com o processo iniciático, com a história, enfim, o desrespeito com o sagrado.
O conhecimento foi esquecido no tempo, sobrando apenas a desorientação e o desespero. As incógnitas formam buracos na nossa fé. Buscamos cobri-los com qualquer teologia que nos parece lógica. Os enxertos causam estragos maiores ainda. Quando vejo sacerdotes consultando cartas, runas, palma das mãos, bolas de cristal; praticando reike, cirurgia pelo "espaço", terapias holísticas; tomando hóstia e batizando os seus filhos com água benta em nome de Jesus... tenho vontade de chorar. Penso nos profundos ensinamentos dos Odús. Penso em toda a riqueza cultural e sabedoria milenar que nos foi legada e que está sendo desprezada, muitas vezes, por puro interesse comercial.
Mas nós, jovens iniciados, fomos despertados por um conhecimento que ignorávamos. Existe um ditado que diz: "o conhecimento gera responsabilidade". Está na nossa consciência o compromisso de resgatarmos o saber que ficou para trás. Cada um, em seus Ilès, em suas profissões, tem agora o dever de propagar a verdadeira tradição dos Òrisà, Nkices e Voduns.
Nosso trabalho é missionário* e ficará marcado na História se trabalharmos com amor e dedicação.
Os primeiros frutos já estamos colhendo. A fraternidade que se estabeleceu entre nós é prova de que nossos Òrisà estão nos abençoando, e agradeço sinceramente, todos os dias, por isso. Adúpé o!


E kú alé!

* no sentido de "missão"
Imagem: R. L. Cairns

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